Os Testamentos | Margaret Atwood


II 
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Impressões 

  Disclaimer: pode conter spoilers   

Hoje trago, um pouco tardamente, a resenha do livro Os Testamentos, de Margaret Atwood, o sucessor de O Canto da Aia, que fez um estrondo sucesso após o lançamento da série homônima pela Hulu, em 2017. Desde então, não paro de ouvir falar do livro de capa vermelha e sua surpreendente e distópica história.

O Conto da Aia foi já foi resenhado aqui no blog (pela Hemilly), mas acabamos demorando um pouco para conseguir adquirir sua continuação: levando o valor que paguei no primeiro, não queria pagar tão mais caro pelo segundo, então esperei alguma promoção. A questão é que o primeiro tem quase o dobro do tamanho, então acho que fiz um ótimo negócio. 


Eu criei uma enorme expectativa em relação ao Os Testamentos, principalmente por conta das opiniões sobre o livro encontradas na internet enquanto esperava para poder comprá-lo. Um grande número de pessoas dizendo que o livro era incrível e até mesmo melhor que o primeiro. Então vocês imaginam qual foi minha reação ao ir lendo e percebendo que o livro, pra mim, não era tudo isso - e eu arrisco a dizer que o primeiro ainda supera seu enredo.

Um ponto que se repete de um livro para outro é a forma com que o machismo desmedido é retratado, principalmente no início da história. Essa forma, que a princípio é exacerbada, continua doendo em nós, mulheres, pois expressam aquilo que vivemos diariamente. Saber que não nos distanciamos tanto da sociedade de Gilead assusta - e muito. 


Os Testamentos tem, sim, uma coisa melhor que O Conto da Aia: a leitura é muito mais fluida, e a divisão em três personagens foi uma ideia incrível, mesmo que um pouco confusa (demorou um tanto para decorar quem era 369A e 369B). O fato de sermos deixados a espera das conclusões dos mistérios de cada uma das narradoras impulsionava a leitura, e tornou-se mais difícil largar o livro. 

Mas até mesmo essa boa ideia acaba se tornando um problema no livro depois. Enquanto as histórias iam se afunilando, os mesmos acontecimentos eram relatados pelas três personagens, e isso acaba cansando o leitor: sabemos o que vai acontecer, e nem sempre a visão de mais uma personagem é necessária para o entendimento. Então fica parecendo uma grande encheção de linguiça. 

"A memória é uma coisa tão cruel. Não conseguimos lembrar do que foi que esquecemos. Do que nos obrigaram a esquecer. Do que tivemos que esquecer, para poder fingir que vivemos aqui com alguma formalidade."

Além disso, o livro vai se desdobrando de forma bem óbvia - as grandes revelações na verdade acabam por não surpreender nem um pouco. O enredo me parece até mesmo fraco, em comparação com o primeiro, que deixou diversos mistérios a serem resolvidos - mistérios esses que, inclusive, sequer são diretamente respondidos nesse livro. 

Essa previsibilidade acompanha a história até o final, e nem mesmo a morte acaba trazendo alguma emoção nova para a história - passamos por ela sem muita cerimônia, pois até ela era óbvia. O grande golpe final acontece fácil e rápido demais: não há uma jornada construída em cima disso; não vemos grandes desafios ou imprevistos no caminho para a derrocada de Gilead. 


A história começou de forma excepcional - mas terminou de um jeito preguiçoso, um tanto ex-machina, e todo aquele sistema gigantesco de opressão parece cair num piscar de olhos. O fato de os desdobramentos que vêm com as ações finais das personagens não serem descritos piora ainda mais essa sensação. A parte mais emocionantes de outras distopias que li fora justamente a forma como os sistemas de opressão foram caindo ou se mantendo, por meio das ações das personagens, e isso não nos é mostrado - a história é, inclusive, colocada inteira em dúvida nas últimas páginas.

Finalizado o livro, não consegui me aquietar: embora o grande problema se resolva, ficam diversas pequenas questões não respondidas em lugar algum. Então, decidi buscar outras opiniões - por meio das resenhas de outras pessoas. Comecei a duvidar se tinha lido o mesmo livro que elas, até que alguém disse que o livro fora escrito especialmente para quem acompanha a série, e que havia dado diversas respostas para questionamentos levantados nela. 

Então, acrescento mais uma crítica para Os Testamentos: em vez de se apresentar como uma continuação, o livro não passa de um presente aos fãs da série, e pode não ser tão bom para aqueles que não acompanham a série, como eu. Para mim, da forma como terminou, era melhor que o livro sequer tivesse sido escrito. 

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13 comentários

  1. Como ja diriam " A expectativa é o pai da decepção..." eu estou cheia de dedos para ler esse livro justamente por ja ter sido adaptado para uma série. Sendo que, nem a série não me agradou de primeira...

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    1. Eu não assisti a série, mas fiquei muito brava com o fato de aparentemente o livro só ser bom pra quem viu a série; só ter uma compreensão total quem assistiu. Achei meio desrespeitoso com quem leu o livro.

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  2. Li a resenha um pouco por cima porque, antes de ler esse livro, eu preciso ler de uma vez O Conto da Aia. Estou com o livro aqui desde o ano passado, e estava planejando ler no outono... mas acho que com o momento em que estamos eu realmente prefiro adiar um pouco mais a leitura. Já assisti as duas temporadas da série e acho fantástico, triste e brilhante! O que a autora criou foi fenomenal e, infelizmente, muito atual :(

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    1. ps: meio triste saber que esse livro decepcionou um pouco. mas depois que eu ler o primeiro vou ler ele mesmo assim hehe.

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    2. O primeiro livro é muito bom e muito intenso. Eu senti muito tudo nele, então não sei se recomendo ler nesse momento em que as coisas estão tão doídas.

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  3. Poxa, é tão chato a gente criar expectativas pra ler um livro e no fim ele não ser tudo isso, né? Pelo que você descreveu, parece que foi algo escrito às pressas só para finalizar algo. Uma pena :(

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    1. Simmm! Exatamente. Ela começa o livro muito bem, e depois a história parece que corre pra terminar. Achei isso péssimo ):

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  4. Eu amei sua sinceridade ao falar sobre o livro. É muito decepcionante quando colocamos uma certa expectativa em cima de uma história, e ela nos decepciona assim. Não li ainda o Conto da Aia (mais porque não acho que tô com o psicológico, ainda, pra poder saber mais sobre a história), mas sei que merecia uma continuação tão boa quanto o primeiro livro!

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  5. Sobre ler um livro e perceber que ele não é tudo isso que dizem: sei como é, estou passando por isso atualmente. É uma droga quando isso acontece e ficar com a impressão de que era melhor que o livro nem tivesse sido escrito é pior.
    Não li esse livro, nem o primeiro e particularmente não tenho vontade de ler, apesar de que tenho vontade de conhecer a escrita da Margaret... Foi bom ler sua resenha, é melhor ir com expectativas baixas e me surpreender do que ir com expectativas altas e me decepcionar haha
    Adorei a resenha e sua sinceridade, parabéns!

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  6. Primeiramente: parabéns pela sinceridade ao falar deste livro. Eu quero ler muito o conto da aia, ele está parado na minha estante a um bom tempo, mas quero muito ler ele logo logo.

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  7. Eu ainda não li este, mas não vejo a hora de me jogar nessa leitura.
    O conto de Aia foi uma leitura difícil, me deixou perturbada e angustiada e demorei para finalizar, mas valeu a pena.

    Sai da Minha Lente

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  8. Eu tenho muita vontade de ler ambos os livros e assistir à série e realmente acho essa história IMPORTANTÍSSIMA em um milhão de aspectos, mas achei um pouco sem sentido fazer um livro pra complementar a série, e não o livro anterior... Ou, se for pra fazer isso, não é melhor sinalizar isso evidentemente? Porque aí evita esse tipo de decepção que você sentiu, talvez. É uma pena porque esse universo da Margaret é incrível demais.

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